A ASSOCIAÇÃO DE PROTECÇÃO À INFÂNCIA E O SEU FUNDADOR
No passado dia 7 de maio, na igreja de Santa Clara, ao iniciar a Eucaristia celebrativa do aniversário desta secular instituição – criada em 1903 - fez-se memória do seu patrono.
“Quis a direção dar graças a Deus pelos 121 anos de existência desta associação que, no seu nome, honra o fundador: ‘Associação de Proteção à Infância Bispo D. António Barroso’ (APIBAB)
E quem foi D. António Barroso? Poder-se-á perguntar…
Para iniciar a resposta, selecionei duas afirmações:
O Homem das causas difíceis, o minhoto de rija têmpera, que dizia: “Há duas coisas de que não morrerei: de parto ou de medo”;
O Bispo pobre que, no seu testamento, escreveu: “Nasci pobre, rico não vivi e pobre quero morrer.”
Breve resenha biográfica
-Nasceu em 1854 em Remelhe, Barcelos, num pardieiro subalugado aos caseiros da Casa de Santiago onde seus pais viviam. A mãe era tecedeira e o pai, carpinteiro.
Numa receção em Barcelos, ao entrar, viu uma sua vizinha e disse: “Então Vª Excia que tantas vezes me matou a fome, ajoelhada diante de mim?! Deixe-me dar-lhe um abraço”.
Ordenou-se presbítero, em 1879, no Colégio das Missões Ultramarinas em Cernache de Bonjardim.
-No ano seguinte seguiu para Angola/Congo
-Em 1891, com 37 anos, foi ordenado bispo e nomeado prelado de Moçambique.
-Em 1898, foi nomeado bispo de Meliapor na Índia
-Em 1899, veio para bispo do Porto. Tinha 45 anos
-Em 31 de agosto de 1918, morreu, com 64 anos, no Paço de Sacais, junto ao Liceu Alexandre Herculano, uma casa alugada porque, entretanto, o Estado tinha-se apropriado do Paço Episcopal que só restituiu na década de sessenta.
Na memória do Povo, ficou como:
* Bispo dos Pobres
- Porque praticou a caridade:
. A mãe ofereceu-lhe o seu cordão de ouro. Mais tarde, ele confessou que o cordão já não existia porque o foi partindo aos bocadinhos para dar, quando nada mais tinha, aos pobres que lhe batiam à porta.
. O escritor Raul Brandão seu contemporâneo escreveu: “O Bispo é uma grande figura de bondade. Dá tudo o que tem”.
. D. António Barbosa Leão, seu sucessor no Porto, disse que “em sua casa faltaria talvez na mesa até o necessário; o seu vestuário muitas vezes denunciava pobreza, mas para os pobres havia sempre: esmola e palavras amigas”.
- Porque dinamizou várias instituições de assistência, como a Oficinas de S. José, Asilo de Vilar, Recolhimento das Meninas Desamparadas, Recolhimento do Ferro, Irmãzinhas dos Pobres. Fez renascer o Círculo Católico Operário. E criou a Associação de Proteção à Infância.
- Porque defendeu os mais pobres:
Em 1918, pouco antes da sua morte, publicou uma carta pastoral em que defendeu o trabalho como “nobre meio de se ganhar o sustento de cada dia”. Lembrou aos patrões que “brada ao céu o pecado de se não pagar a quem trabalha a jorna merecida e justa”. Reconheceu a importância dos sindicatos. Clamou contra a “exploração monstruosa, sem entranhas nem pudor”.
*Bispo Santo – “Vox populi, vox Dei”
Minha mãe, que o conheceu em criança, falava do “Senhor Bispo de barbas brancas que era um santo. Sofreu como Nosso Senhor”.
O seu calvário começou ainda no tempo da Monarquia, mas acentuou-se com o advento da República que o sujeitou a três julgamentos e o condenou a dois exílios:
- Primeiro - Em 1911, Afonso Costa chamou-o a Lisboa e condenou-o ao desterro com a proibição de voltar ao território diocesano. Foi conduzido sob prisão para o Colégio das Missões. Quando ia para o Ministério, o carro que o levava foi apedrejado pelos carbonários.
Em 10 de Junho, passou a viver em Remelhe, sua terra. E a pequena capela medieval de Santiago tornou-se na ‘catedral do exílio’ do Porto onde ordenou 64 presbíteros, um dos quais foi quem me batizou.
Em 1914, regressou à Diocese, com grande júbilo e um ‘Te Deum’, na Sé.
- Segundo - Em 7 de Agosto de 1917. voltou a ser desterrado, agora para uma diocese que não confinasse com a do Porto. Foi viver para Coimbra. Regressou em 20 de dezembro desse ano, com o governo de Sidónio Pais.
Em 16 de junho de 2017, o Papa Francisco reconheceu as suas ‘virtudes heroicas’ e declarou-o Venerável.
Manter ativa e “adaptada às novas exigências da sociedade” a Associação de Proteção à Infância que D. António Barroso tanto amou, dá vida e perpetua a sua veneranda memória.
A nossa homenagem a quantos a apoiam ou nela trabalham.
PS. O texto integral pode ser lido no ‘sítio’ da Associação: ‘www.apibab.pt’
(26/6/2024)
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