A FAMÍLIA - CRISOL DE CRENÇAS E DE VALORES
Era o dia 2 de outubro…
- Pai, acordaste pra ir para o trabalho? - perguntou a Eva, nessa manhã. É na família que a criança desperta para o valor do trabalho.
- Mamã, diz o «Papá Nosso», pedira a Luz, na noite anterior. Que bela forma de expressar a mensagem do “Abba” de Jesus. É na família que a criança deve ouvir falar de Deus, um Deus amigo – Um Deus-Papá.
Começa cedo, e muito bom, o nosso dia. Vamos ao centro histórico buscar as duas netas para as levar à creche na Associação Nun’Álvares de Campanhã.
A viagem pela marginal do Douro é uma festa. “Cá vamos nós, não vamos sós, vamos com os avós!”Não se calam. É o rio, o nevoeiro, os barcos, as pontes – tudo é pretexto. Falam do pai que foi para a fábrica, da mãe que está a trabalhar. Ao passar junto da igreja sempre dizem: - Olá, Jesus, vamos para a escola. Tu és grande, não podes ir para a escola dos pequeninos. E cantam, cantam… Inicialmente, era “Ó Clarinha, olha as pombas…” Até que, nesse dia, começaram a cantar: “Bom dia, Jesus/ Vimos-te acordar./ Vem para ao pé de nós/ Connosco brincar./ Os nossos trabalhos, a nossa alegria /Te damos, Jesus, durante este dia”. Surpreendidos, perguntamos quem lhes tinha ensinado. E logo as duas, em coro, responderam: - A Lina - a sua educadora.
Nesse dia, motivado pelo texto «Família, lugar de perdão» que corre nas redes sociais atribuído impropriamente ao Papa Francisco, fui ler a sua mensagem para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais que fala sobre esse tema. Diz:
“Não existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar das próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra, mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e fazê-la crescer.”
É na família que a criança experimenta os valores humanos, como o do trabalho, e os valores cristãos de que o papa Francisco realça o perdão.
As crenças condicionam os valores que geram as atitudes que predispõem para a ação. A educação manifesta-se nos comportamentos mas radica-se nas crenças e nos valores. Educar é cuidar das raízes.
Crise, crisol; crítica e crivo são palavras que, na origem, partilham do mesmo significado: separar, depurar, limpar. Ser educador hoje não fácil. A vida familiar não é imune à crise ética desta sociedade hedonista e consumista. São muitos os concorrentes que lhe entram pela porta dentro e perturbam a educação dos seus filhos.
Como o crisol separa o metal da escória e o crivo limpa o cereal das impurezas, assim a família, pela palavra e pelo exemplo, deve criticar (crivar) os modelos que a sociedade apresenta às crianças, ajudando-as a distinguir o bem e o mal. É sua a nobre missão de acrisolar. (21/10/2020)
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