O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, setembro 29, 2006

QUANDO SE SOBREVIVE...

Quando se sobrevive, recorre-se à memória para se continuar a viver.
Perguntam-me por que razão os meus textos privilegiam os dados da memória. A explicação é simples. É muito difícil para mim reflectir sobre o presente, fugindo às núvens negras que o afligem. O azul é a cor do meu clube, o verde é a cor da minha cidade. E, se ainda consigo vislumbrar nesgas de verde, carregadas de esperança, do azul do céu ( como era lindo o azul da nossa vida!...) nada se reflecte no meu horizonte. A minha memória é selectiva: esquece o que de mau teve o passado para fixar os momentos bons que já foram vividos. Não quero contrariar esta qualidade que me ajuda a ver o passado como feliz, gerador de boas recordações. Por isso, não desejo fazer de um texto escrito um auxiliar de memória que grave momentos que, no futuro, espero, serão esquecidos. Não quero "eternizar" o que desejo e acredito seja passageiro. O reviver o passado ajuda-me a viver o presente. Será alienação? Prefiro pensar que é sublimação. Não me alieno porque o passado não me faz esquecer o presente. Sublimo-o porque continuo a acreditar que vale a pena viver. Se Hegel diz que o nosso "eu" , permanecendo, vai assumindo determinações diferentes conforme a idade e a vivência, eu ao realçar o passado, quero atenuar a força do presente nesta passagem para um futuro que desejo bom. Se é o passado que dá densidade ao presente, ao recorrer à memória, procuro que ele seja de tal maneira forte que, mais do que sobreviver, sejamos capazes de viver.