O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, agosto 08, 2006

AS AGRURAS DE UM APRENDIZ

Ontem à tarde (dia 5 de Agosto), quis escrever o meu primeiro blog. Quando já o tinha escrito, antes de clicar em “publish”, a Internet falhou e levou-me o texto. Mas, como não sou homem de desistir à primeira, vou tentar reproduzir, de memória, esse blog a que tinha dado o título: “ QUE ESTRANHO ANIMAL É O HOMEM!”
No quarto n.º 4 da 5ª divisione do Instituto Ortopédico Rizzoli, em Bolonha, olho o ecrã da televisão. Está a transmitir o campeonato europeu de natação. Que beleza de corpos! Com que elegância realizam os saltos para a água, como deslizam, como flutuam! É um sonho. Alguém mudou o canal da tv que, agora, transmite imagens da guerra do Líbano. Que horror! Prédios esventrados, crianças ensanguentadas, carros incendiados. Quem causou tanta desgraça? O homem.
A meu lado, o meu filho José navega na Internet para poder informar pelo telemóvel o seu irmãoJoão e a Eliana, sua esposa, que, depois de o virem visitar, retornam a casa em Geneve e querem saber se o túnel do Monte Branco se encontra livre de trânsito. Que maravilha é a técnica quando posta ao serviço da vida e da fraternidade! A tv continua a vomitar imagens de tragédia. É um atentado no Iraque. É a tecnologia usada contra a vida. É o homem destruindo-se e matando inocentes. Contradições. Que animal seria capaz de causar sensações tão opostas? O homem e apenas o homem. Que animal poderia compor sinfonias como Mozart? Ou semear a morte e a destruição como os grandes assassinos da História? A resposta é sempre a mesma: o homem e só o homem.
Cada um de nós é um microcosmos onde as grandes contradições da humanidade se concretizam. Somos capazes do melhor e do pior. Vivemos grandes euforias e grandes depressões. Semeamos felicidade à nossa volta e fazemos sofrer aqueles que mais amamos. Há momentos em que nos sentimos fortes, capazes de erguer o mundo em nossos braços, e momentos que nos vemos fracos, sem vontade de lutar. Tanto possuímos um coração grande capaz de tudo compreender e desculpar, como um coração mesquinho que se agarra a um pequeno pormenor para magoar e fazer sofrer. Síntese de finito e infinito, somos anjos e demónios, somos bênção do céu e pedaços de inferno.
E quando formamos um casal? Todos nós temos momento em que somos duros como pedras. E pedra contra pedra produz faísca. Uma pedra contra uma tábua nunca chispa. Que cuidado! Quando um é pedra, o outro precisa de se comportar como almofada para amortecer o choque. Na próxima, as posições invertem-se… como diz o nosso povo: “o difícil não é viver, é saber viver”; “apanham-se mais moscas com uma colher de mel que com um barril de vinagre.”
E os caminhos do matrimónio? Ora auto-estradas de paisagens deslumbrantes, ora avenidas debruadas de palmeiras, mas, muitas vezes, carreiros, que queremos floridos, mas sempre carreiros, veredas estreitas, de piso irregular, por vezes íngremes, bordejadas de silvas e com obstáculos que só de mãos dadas podem ser vencidos.
Que estranho animal é o homem!