"CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS"
Perante o mistério da morte, resta-nos o silêncio.
Foi o que me aconteceu, no passado dia dez, com a morte do Fernando. Uma amizade que vem de longe e todos os meses se fazia partilha num jantar de casais.
No seu velório em Paranhos, num silêncio longo, comecei por dar a voz à memória. E detive-me em dois momentos bem significativos da nossa convivência.
Recuei até à primeira visita que fizemos à sua terra de que, sob o título ‘No Princípio, foi o convite’, dei notícia no jornal local. Começava assim:
“E a amizade fez maravilhas…O convite dum amigo para passar um fim-de-semana na sua terra natal fez com que um nome, perdido no anonimato de um mapa, ganhasse relevo e se tornasse familiar: o amigo foi o Fernando Castro e a aldeia chama-se Pombal de Ansiães”. (O Pombal, Fevereiro, 2002)
Recordei também o último jantar de amigos num restaurante da Baixa do Porto, em finais de novembro passado. Como anfitrião, recebi os convivas à porta e esperei pelo Fernando que se demorara a estacionar o carro.
Suspendi a evocação, olhei o seu caixão e, em pensamento, desabafei: - Amigo, no nosso último encontro esperei por ti mas sabia que irias chegar e chegaste: o mesmo sorriso afável, a mesma festa no olhar, a mesma piada oportuna, a mesma discrição nos gestos, a mesma finura no trato. Agora, estou aqui sentado há longos minutos e tu nada me dizes. Olho para ti mas sei que o sorriso não mais brilhará no teu rosto. Já não és tu…
Senti-me impotente perante a grandeza avassaladora da morte. E as lágrimas embaciaram-me os olhos.
Nesse momento de dor e desalento, vieram-me à mente as “Verdades da Fé” do Credo/Símbolo dos Apóstolos: ‘Creio na comunhão dos santos, na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna’.
E ecoaram em mim as palavras do papa Francisco na Festa de Todos os Santos de 2014:
“A solenidade de hoje ajuda-nos, assim, a considerar uma verdade fundamental da fé cristã, que professamos no Credo; a comunhão dos santos. É a união comum que nasce da fé e une todos aqueles que pertencem a Cristo na força do Batismo. Trata-se de uma união espiritual que não é quebrada pela morte, mas prossegue na outra vida. Subsiste uma ligação indestrutível entre nós vivos neste mundo e todos os que passaram para lá da morte. Nós aqui na terra, juntamente com aqueles que entraram na eternidade, formamos uma só grande família”.
E, com ênfase, o Santo Padre concluiu:
“Esta realidade da comunhão enche-nos de alegria: é belo ter tantos irmãos na fé que caminham ao nosso lado, nos apoiam com a sua ajuda e juntos connosco percorrem a mesma estrada até ao céu. E é consolador saber que há outros irmãos que já chegaram ao céu, esperam por nós e rezam por nós, para que juntos possamos contemplar eternamente o rosto glorioso e misericordioso do Pai.”
Senti-me reconfortado mas os olhos continuaram humedecidos. Somos assim, somos humanos… A Fé não anula a dor mas atenua a tristeza da despedida e dá sentido pleno à vida. ‘A Esperança anima-nos mas as saudades é que fazem sofrer…’, como, em hora de luto, nos escreveu D. Januário. ( 26/1/2022)
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