VAMOS CONHECER A NOSSA TERRA (I) - AMARANTE
Agora que a primavera floresce, quero convidar-vos a acompanhar-nos numa viagem que fizemos a esta terra que viu nascer grandes vultos da nossa cultura.
Começámos pelo mosteiro de Travanca (séc. XIII), associado à linhagem de Egas Moniz, que “impressiona pelas suas dimensões”. Além da grandiosidade do conjunto monástico, prendem-nos a atenção os ‘guardiões do limiar’ - serpentes e “monstros que tragam homens desnudos” - nos capitéis dos pórticos e absidíolas. Mas o “que sobressai no conjunto” é a imponente torre medieval e o seu pórtico com destaque para o “Agnus Dei” com a cruz templária. Sentimo-nos em tempos medievais…
Após este mergulho na história, fomos ao encontro do mosteiro de Freixo de Baixo, “símbolo maior do complexo monástico instituído pelo poder senhorial” onde se impõe “uma robusta torre sineira” Aqui, vale a pena fazer uma pausa, sentar num murete e ouvir o cantar da água que lhe corre aos pés.
Reconfortados, subimos para a igreja de Telões, “sede de um antigo instituto monástico entretanto desaparecido”, com origens nos séculos XII e XIII, mas com reformas posteriores bem visíveis na longa galilé. O que mais desperta a atenção é a torre sineira que nos fala de épocas bem remotas.
Descemos até Gatão e visitámos a “Casa de Pascoaes” onde nasceu (2/11/1877), viveu e morreu (14/2/1952) o autor de “Maranus”, Teixeira de Pascoais, e se forjou, no início do século passado, o “Movimento Nós” que afirmava a identidade da alma luso-galaica.
Na cidade de Amarante, percorremos a ‘ponte de S. Gonçalo’, construída no século XVIII e que se tornou famosa pelo combate que nela se travou, em 1809, para impedir a passagem das tropas napoleónicas. E entrámos na igreja do mosteiro edificado, entre os séculos XVI e XVIII, no local duma pequena ermida que remontaria ao século XIII. Dada a sua magnificência, e para não ofuscar a beleza que só uma visita é capaz de propiciar, apenas direi que as recentes obras de restauro restituíram-lhe o brilho que a pátina do tempo lhe havia roubado. Disse-me a amiga Assunção Torres que, só da capela-mor, se retiraram 110 quilos de poeiras que enegreciam a sua riquíssima talha dourada.
Seguimos para o mosteiro de Mancelos, já mencionado em 1120, que nos surpreendeu pelo acastelado das ameias. Desta freguesia, era o pintor Amadeo de Sousa Cardoso em cujo cemitério repousam seus restos mortais num jazigo mandado levantar pela Câmara de Amarante no cinquentenário da sua morte. A lápide da sua base diz: “amadeo de sousa cardoso – N. em Manhufe, Amarante a 14 de Nov. de 1885 – F. em Espinho a 25 de Out. de 1918” - “É a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX. (José Almada Negreiros)”
Bem próximo, encontra-se uma capela-jazigo, em lastimável estado de abandono, onde uma lápide assinala a presença de Ana Guedes da Costa, “uma vida exemplar, dedicada à caridade, ao bem dos fracos, dos humildes e necessitados”, que deu nome à antiga Escola dos Enfermeiros do Hospital de Santo António.
Ao terminar na igreja de Real, do início do século XIII, com uma torre sineira de “claro sabor românico”, uma pergunta nos ficou.
- Até que ponto os mosteiros – centros de cultura e hospitalidade - estarão na matriz desta terra onde germinaram figuras insignes como Teixeira de Pascoaes, Amadeo Sousa Cardoso, António Cândido, Agustina Bessa-Luís, Acácio Lino, Ana Guedes?
(25/5/2022)
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