O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 16, 2022

UM LUXO... E UM TESOURO

Nos tempos mais duros da pandemia, circulou nas redes sociais um texto de autor desconhecido que dizia: “Fizeram-nos acreditar que o luxo era o raro, o caro, o exclusivo, ter muito, muito dinheiro! Tudo aquilo que nos parecia inalcançável! Agora damo-nos conta de que o luxo eram esses pequenos gestos que não sabíamos valorizar/apreciar, porque, e tão simplesmente, por serem gratuitos! Aprendemos agora que: Luxo, é estar são! Luxo, é cumprimentar alguém com a mão! Luxo, é não pisar nenhum hospital! Luxo, é poder passear pela orla do mar e ouvir o sussurrar das ondas! Luxo, é passear pelo parque e conversar à vontade com alguém, sem quaisquer receios! Luxo, é poder sair às ruas, trabalhar e respirar, sem máscaras... Luxo, é poder reunir-se com a família! com seus amigos, abraçar, beijar! Luxo, são os olhares! Luxo, são os sorrisos! Luxo, é vivenciar intensamente as nossas alegrias! Luxo, são os abraços e os beijos! Luxo, é desfrutar vivamente cada instante, cada amanhecer, cada entardecer! Luxo, é o privilégio de amar e de estar vivo. Luxo, é dar mérito aos nossos verdadeiros amigos, e àqueles que nos querem bem! Luxo, é acarinhar, abraçar os nossos velhinhos doentes, que nos são tão queridos! Tudo isso é um luxo, e não sabíamos!... Prisioneiros nos encontramos, na esperança da liberdade, que desapareceu das nossas vidas!...” Recordei este texto, no dia 6 de março, ao ver, na RTP1, uma reportagem na chegada de refugiados ucranianos ao aeroporto de Lisboa. Registei o testemunho/apelo, num misto de dor e esperança, duma fugitiva que escolhera Portugal só porque “fica muito longe da minha terra”: “Apreciem a vossa vida. Sejam felizes! É um tesouro. A vida com paz é um tesouro. Não é preciso ter muito para ser feliz. Agora percebo isso.” E poderia acrescentar: Tesouro, é poder deitar-se à noite sem ter medo de ser atingido por um míssil. Tesouro, é, de manhã, abrir a torneira e ter água para se lavar e para as necessidades domésticas. Tesouro, é ir ao supermercado e à farmácia e encontrar disponíveis os produtos que se procura. Tesouro, é poder passear na rua sem o alarme medonho das sirenes. Tesouro, é ver a sua casa e a sua cidade sem as feridas dos bombardeamentos. Tesouro, é respirar o ar livre sem ter de se refugiar num ‘bunker’ apinhado de gente angustiada. Tesouro, é poder sair para o trabalho e, depois de um dia de canseiras, regressar ao aconchego da sua casa. Tesouro, é poder viver junto dos seus sem necessidade de partir ou de os ver partir rumo ao incerto. Tesouro, é poder preparar a mochila escolar dos filhos/netos e receber o seu beijo de ‘até logo’. Tesouro é abraçá-los ao fim do dia e afagar a sua cabecita na hora de adormecer. Tesouro, é não ver partir para a guerra aqueles que são mais queridos. Tesouro, é viver em paz sem necessidade de matar para não ser morto. Tesouro, é não ter de deixar para trás os pais idosos e doentes só porque se quer salvar os filhos. Tesouro, é poder ver o sorriso das crianças e não olhos esgazeados pelo medo da guerra. Tesouro, é não ver corpos ensanguentados ou mesmo despedaçados pela violência das bombas. Tesouro, é estar vivo e em segurança. E veio-me à mente a parábola do “tesouro escondido no campo, que um homem ao encontrar esconde, e na sua alegria vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo” - Mt 13, 44 (16/3/2022)