POR AQUI PASSOU SÃO PAULO...
“Fizemos escala em Siracusa, onde ficámos três dias. De lá, seguindo a costa, atingimos Régio. No dia seguinte soprava o vento sul e chegámos em dois dias a Pozzuoli.” (At 28,12)
Na dia da sua Festa, evoco esta passagem da vinda de S. Paulo para Roma. Num tempo de barcos à vela e navegação de cabotagem, não seria diferente a rota seguida por S. Pedro, da Palestina para a capital do Império.
E faço-o partilhando convosco algumas vivências da viagem que, na Páscoa, fizemos por terras da Sicília.
Iniciámos em Taormina, com o seu magnífico teatro romano, debruçada sobre o mar donde é possível ver a costa referida nos Atos dos Apóstolos. Ao fundo, o cone nevado do Etna, o mais alto vulcão da Europa (3345 m.). Subimos até aos 1 900m. Nevava… No dia seguinte, percorremos a costa paulina desde Catânia até Messina. Começámos por avistar ao longe, por entre a neblina, a cidade de Régio de Calábria, já na Itália continental.
Em Messina, emocionei-me ao ver aquele estreito, de apenas 3 km de largura, onde sopram ventos contrários e as águas dos mares Tirreno e Jónico se entrechocam. Os riscos para a navegação fizeram nascer o dito ‘entre Cila e Caríbdis’ correspondente ao nosso ‘entre a espada e a parede’. Ulisses conta nas suas viagens: “Navegámos então para os estreitos. De um lado estava Cila. Do outro, a divina Caríbdis sugava de modo terrível a água salgada do mar (…) Foi então que Cila atacou. Nós olhámos para ela, cheios de medo da morte, enquanto ela arrebatou seis companheiros da nau. (…) Foi a coisa mais terrível que vi em todas as minhas viagens.” (A Odisseia de Homero, adaptada por Frederico Lourenço, pág. 197)
Já na costa norte, percorremos o ‘circuito árabe-normando’ , começando em Cefalú, a primeira catedral normanda (1131) a ser construída na Sicília, passando pela de Monreal e, já em Palermo, visitámos a igreja da Martorana (1143), terminando na Capela Palatina. Todas estas igrejas, normandas na sua estrutura, são um deslumbramento no seu interior totalmente revestido por mosaicos bizantinos, feitos por artistas árabes. Eram estes os senhores da ilha quando os normandos a conquistaram.
Depois de passar por Érice, rumámos a Agrigento onde percorremos o ‘Valle dei Templi’ gregos do séc. IV a.C. a fazer lembrar o Partenon de Atenas.
Seguiu-se uma visita à ‘Villa Romana dei Casale’, uma moradia de luxo do séc. IV, decorada com magníficos mosaicos romanos. O seu extraordinário estado de conservação deve-se ao facto de ter estado soterrada, durante 9 séculos, sob uma enorme massa de barro que um terramoto fez desabar.
Após visitar Caltagirone e Noto, chegámos a Siracusa fundada em 734-733 a. C. e onde S. Paulo ficou “três dias”. Ao percorrer de barco o seu porto interior, lembrei que por ali andou S. Paulo e, provavelmente, também S. Pedro. No ‘teatro grego’, sobranceiro ao porto, recordei o ‘Apóstolo dos Gentios’, a anunciar o “Deus Desconhecido”, no Areópago de Atenas, (At 17,23).
E não esqueci o grande Arquimedes que aqui nasceu e morreu (287 a.C. - 212 a.C.) a quem se deve a expressão ‘Eureka’ e que dizia: “dai-me um ponto fixo no universo e eu, com uma alavanca, moverei o mundo”. E relembrei a velha mnemónica do ‘teorema de Pitágoras’: “Pitágoras em Siracusa, disse um dia a seus netos o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”.
Foi um encontro com lugares onde se cruzam as matrizes da nossa cultura judaico-cristã e greco-romana. O espaço esbateu o tempo e eu senti-me entre ‘velhos’ conhecidos…(29/6/2022)
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