NEM ORAÇÃO SEM OS HOMENS - NEM TRABALHO SEM DEUS
No dia em que Charles de Foucauld foi canonizado, encontrava- me a ler o livro “Uma grande fome de absoluto – Louis Évely”, de Michel Barlow.
E quem foi Louis Évely (1910 – 1985)?
A comunicação social apresenta-o como presbítero e escritor belga, pedagogo da vida espiritual.
Este livro vai bem mais fundo. “Procura retratar a evolução concreta do seu pensamento, a maneira como este evoluiu; como as suas convicções se formaram pela solicitação dos acontecimentos e se traduziram em atos.”
Quem o ler poderá certificar-se que ele encarnou as suas ideias na vida e que esta não foi menos eloquente que as suas obras.
No Prefácio diz-se que a ideia mestra de toda a sua vida e pregação era a pergunta:”Que tens tu para viver na Eternidade daquilo que quiseste amar na terra? Que quererias tu ter eternizado?”
Como ele próprio escreveu: (Quando eu morrer) “Deus encontrará em mim um grande vazio a preencher porque não tenho nada para lhe apresentar a não ser uma grande fome de absoluto. Mas eu ponho n’Ele a minha confiança”. O seu objetivo era eternizar a vida.
E não é essa a grande lição do ‘Sermão das Bem-Aventuranças’? Faz hoje … e terás amanhã.
Na sua vida e obra, através duma palavra forte que exaltava a beleza do mundo sem esconder o trágico da existência, perpassa um sopro de liberdade.
‘Ser religioso’ não é relegar Deus para gestos de culto ou boas ações, mas esforçar- se “por reler toda a vida em função do absoluto, é encontrar o horizonte do divino na nossa existência concreta.”
Defendia uma vida espiritual alicerçada na dimensão metafísica do homem, fundada no ser do homem. “Libertou a espiritualidade do discurso tradicional que a confinava ao quietismo.”
No capítulo 16 – “Aux sources de la fraternité selon Charles de Foucauld”, o autor diz que os anos de 1950 foram para Louis tempos de intensa atividade, marcados pela influência espiritual do Padre de Foucauld, como o próprio afirma no seu Itinerário espiritual: “Eu sentia-me muito próximo deste grande contemplativo que compreendeu que Deus não está em nenhuma parte mais presente do que no homem”.
E acrescenta: “Louis encontra-se plenamente neste místico, centrado na pessoa de Jesus Cristo e esta convicção vai estruturar a sua espiritualidade. O cristocentrismo é, sem dúvida, o traço mais característico do catolicismo do século XX, desde a maneira de rezar até à investigação teológica que culmina no Vaticano II”.
Nessa década, tornou-se conhecido o pensamento refrescante e a ação admirável do tenente Charles de Foucauld que encontrou Deus numa conversão tão súbita quão radical.
“Louis não podia deixar de se fascinar por esta personalidade de fogo que, como ele, não se contentava com meias medidas e se dava todo a Deus, sem se fixar em pormenores”.
Louis Évely entusiasmou-se pelas ‘Fraternidades Seculares de Charles de Foucauld’ onde viu um meio eficaz de estabelecer uma relação estreita entre a vida e a oração, de viver “uma oração que não rompa com os homens e um trabalho que não rompa com Deus.”
Criado à Sua imagem e semelhança (Gn 1,26), o homem é o maior sinal da presença de Deus na nossa vida. É a ‘escada de Jacob’ (Gn 28, 12) que nos ajuda a subir até Ele. (1/6/2022)
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