O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, junho 21, 2022

DUAS TARDES EM CONTRASTE...

No dia 3 de junho, por convite do P. Soares Jorge, fui à ‘Casa Sacerdotal’ falar do meu percurso de vida. Foi um momento de emoção. Estava perante uma assembleia de “velhos amigos” e alguns mestres. Na impossibilidade de a todos nomear - o que bem mereciam – limito-me a realçar dois dos presentes. Começo pelo P. Jorge, o diretor do “Secretariado Diocesano da Catequese” quando, em 1964/65, iniciei a minha atividade socio-pastoral na zona do Cerco – São Roque. Logo em agosto de 1964, com o seu apoio, realizámos um curso de catequese e “em agosto de 1965, já sob a orientação do Secretariado, fizemos um novo curso frequentado por mais de duas dezenas de jovens, na sua maioria, a quem foi passado o certificado de aprovação (20/3/1966). O P. Jorge deu-nos os parabéns pelo empenho dos muitos jovens que nele participaram, sem qualquer desistência ou reprovação.” (No Princípio foi assim…). Foi o início de uma profícua colaboração. Seguiram-se mais cursos, encontros para catequistas nas férias do Carnaval em Cortegaça, cursos da Torre da Marca. A revista mensal ‘A Mensagem’, de que foi diretor desde a sua criação (1/10/1956) até outubro de 1975, muito me ajudou nos encontros mensais de catequistas. E não posso esquecer o sentido de Igreja com que me acolheu quando, em nome da Voz Portucalense, fui à sua paróquia do Santíssimo Sacramento (20 e 21/4/2013). Após o Evangelho, disse: “Hoje, a homilia tem duas partes: uma teórica sobre a importância da Comunicação Social na Igreja; outra, prática, a cargo do Dr. João que nos vem falar sobre a Voz Portucalense.” Que contraste com outras vivências… Outro Mestre foi Frei Geraldo, beneditino, professor universitário, especialista na história das Ordens Religiosas, biblista e profundo conhecedor da cultura árabe e hebraica. Recordei um seu texto que, na década de setenta, suscitou uma profunda reflexão na cidade sobre a ‘Visita Pascal’. E não esqueci o que disse num encontro que, a meu pedido, teve com professores: “ Nunca haverá uma paz duradoura entre Judeus e Palestinianos porque têm a mesma matriz cultural: “olho por olho, dente por dente”. Sem perdão, não há paz e o perdão foi a grande novidade do Evangelho”. Foi por sua sugestão e em sua honra que o Coro Gregoriano do Porto, em 2008, adotou a alba-cogula beneditina como sua veste coral. Quantas e quão gratas recordações… Do meu testemunho, destaco esta síntese: ”Trabalhei seis anos com D. Florentino (1963-1969) e outros seis com D. António Ferreira Gomes (1969 -1975). D. Florentino valorizava a proteção e a dignificação do pobre que via como um sacramento de Cristo. D. António privilegiava a ‘pastoral da inteligência’ assente na trilogia da Liberdade, Igualdade, e Fraternidade. Dois carismas, o mesmo amor à Igreja, um único Espírito. ‘Devemos caminhar unidos nas diferenças: não há outro caminho para nos unirmos. Este é o caminho de Jesus’- Papa Francisco”.(cf. Nos Alvores da Obra Diocesana) Dias atrás, numa visita a outra diocese, falei deste encontro fraterno a um sacerdote que, após mais de cinquenta anos de serviço paroquial, foi dispensado por razões de saúde e idade. Agora vive só, em sua casa. Vale-lhe o centro social que ajudou a criar. Em seus olhos liam-se ausências e nos silêncios abrigavam-se desalentos... Depois de lhe ouvir confidências e desabafos, comentei: - É a solidão”. - “É sofredão”, acrescentou ele, com um sorriso amargo. Este ‘neologismo sofredor’ deixou-me interrogativo… E o cuidado pelos mais frágeis de que tanto fala o Papa Francisco? (22/6/2022)