O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

QUÃO INSONDÁVEIS SÃO OS DESÍGNIOS DE DEUS...

Na noite do passado dia 2 de dezembro, assisti ao ‘Recital do Advento: canto e órgão’ que a nova Irmandade realizou na capela de Fradelos. Ao ler o ‘curriculum’ do organista, Gregório Gomes, o coração emocionou-se. E porquê? Porque me apercebi que era discípulo do Prof. António Mário Costa, como me confirmou com palavras elogiosas. E quem foi o Prof. António Mário Costa? Muitos dos leitores já o ouviram a tocar o órgão da Sé nas Eucaristias que aí se realizaram no ‘Dia da Voz Portucalense’. Então, já residia em Aveiro, mas sempre nos honrou com a sua presença. Faleceu aos 55 anos com um magnífico currículo de serviço à música e à Igreja. Apenas algumas notas: Iniciou-se no Curso de Música Litúrgica da Diocese do Porto, onde teve como professor o P. Ferreira dos Santos. Em 1993 e 1994, concluiu o Curso Superior de Música Sacra e a licenciatura em Órgão, na Alemanha. Foi professor nos Cursos Nacionais de Música Sacra, em Fátima; no C.C.C.P, na U.C.P. e no Conservatório de Música de Aveiro. No Porto, foi titular do órgão da Sé, diretor dos coros da Universidade Católica, e do Seminário Maior. Em Aveiro, fundou os coros da Catedral e da ‘Câmara Capella Antiqua’. Foi maestro do Coro de Santa Joana e membro da ‘Comissão Diocesana da Cultura’. Mas a sua vocação para a música e a sua ligação à Igreja começou a manifestar-se bem mais cedo, por influência da família e da Obra Diocesana de que estamos a festejar o 60.º aniversário. Como? Quando, em 1964, o ‘sacerdote responsável’ da Obra foi viver para o bairro do Cerco, levava a missão de liderar o seu primeiro trabalho comunitário e de lançar os alicerces da futura paróquia numa zona, outrora de campos e montes, mas, agora, um aglomerado de cinco bairros sociais. Como não havia qualquer espaço litúrgico, começou a celebrar na escola primária do Cerco - a sua ‘primeira capela’ Pouco a pouco, foi-se fazendo igreja. Inicialmente, só com moradores do bairro. Mas, rapidamente, a população das redondezas se deixou contagiar pela missa do ‘padre dos pobres’ como diziam. E até se cotizaram para lhe oferecer uns paramentos novos. Muito cedo, uma família da rua do Cerco tornou-se presença habitual: um casal com seus filhos, o mais novo dos quais - o Toni - ainda adormecia no colo da mãe Benilde. O pai, Alfredo, integrou-se na Equipa de Liturgia. E o menino Toni passou a acompanhá-lo para todo o lado. Tão pequenino era que, quando lhe perguntavam o nome sempre respondia: “Tó-má-ti-pi-a-tó” (traduzindo: António Mário da Silva Pinto da Costa). A capela do bairro, benzida (1/11/1966) por D. Florentino, logo recebeu um pequeno órgão. Há dias, o diácono Freitas Soares, o organista da paróquia, lembrava que, no final das missas dominicais, o Toni subia para o seu regaço e, com um dedito, tocava as músicas mais cantadas pelo coro. E a felicidade brilhava no rosto de seu pai… Entretanto, começou a ter aulas particulares de piano. E aperfeiçoava a sua aprendizagem no piano da casa paroquial. E com que empenho o fazia… Esquecia-se do tempo… Com o incentivo do P. Santos, a semente desabrochou, cresceu, fez-se árvore… Mas para os colegas de infância ficou sempre ‘Toni. E, quando algum lhe recordava o ‘Tómátipiató, ele sorria com aquele sorriso de criança, tímido e introspetivo, que nos enchia a alma… “Homem Bom, um Homem da Igreja”, foi um ‘Menino Bom’ que cresceu no seio duma família e duma comunidade que o apoiaram e ele nunca esqueceu… Ainda em 2017, na ´bodas de ouro’ da paróquia, voltou à ’sua’ capela - já muito doente, viria a falecer no ano seguinte – para abrilhantar a apresentação do livro “No Princípio Foi Assim…”. E foi emocionante ver o insigne professor acompanhar, no ‘velho’ órgão da sua infância - já um pouco desafinado - uma assembleia que, de olhos humedecidos, voltou a cantar o ‘Hino da Alegria’ E com que emoção!…. Que bom! No ‘Recital de Canto e Órgão’, a sua mestria encheu a capela de Fradelos pelas mãos dum dos seus discípulos mais prestigiados…Voltei a ouvi-lo, no ‘Recital de Cravo e Fagote’ - 20/1/2024. Instrumentos diversos, o mesmo júbilo… A nossa vida é um cântico de ação de graças…/21/2/2024)